Meus caros, é noite de ano novo. Despido desse sentimento de renovação, recomeço, etc e tal, encontrei o momento e a calma para escrever sobre um tema que considero importante, mas sobre o qual nunca havia pensado tanto quanto nos últimos tempos: preconceito lingüístico.
Talvez, seja necessário muito mais do que este pequeno texto para exprimir toda a minha opinião e dúvidas sobre o assunto.
Talvez, seja necessário muito mais do que este pequeno texto para exprimir toda a minha opinião e dúvidas sobre o assunto.
Em uma longa conversa que tive com um amigo, estudante de Letras da UERJ, foi-me apresentada uma nova questão referente ao nosso idioma: “Quem fala de forma diferente do padrão da língua portuguesa fala errado?” Após muito discutirmos, chegamos à conclusão - na verdade, fui convencido - de que não. O erro está em não aceitar essas variações, presentes não só no Português, como também no Espanhol, no Inglês, no Francês e em todos os outros códigos lingüísticos que existem (ou existiram), em maior ou menor grau.
As variações a que me refiro são principalmente aquelas pertencentes ao campo gramatical. Exemplos não me faltam. São “discordâncias nominais e verbais”, “regências trocadas” e por aí a fora. Citarei dois casos muito comuns e que, vez por outra, são vistos com extremo preconceito por aqueles que se julgam dominantes da norma culta da língua, quando, na verdade, são os que a mais ignoram. Antes de continuar a explicar, é necessário esclarecer que somente consideramos variação, e não um erro, as expressões a que grande parte da população ou de uma comunidade aderiu, seja de forma consciente ou não.
Mencionarei primeiro o clássico “A gente fomos”... ou se preferir, “Nós vai”. Ainda há expressões do tipo “As menina foi” e “Os carro parou”... É sabido que quem fala do jeito mostrado acima, provavelmente, tem baixa escolaridade. E, por isso, são, freqüentemente, ofendidos e mal vistos. Uma atitude incorreta e absurda! Eu sei que em alguns de vocês, leitores, essas frases causam mais do que estranhamento, provocam uma irritação fora do comum. Para não dizer que sou 100% sem preconceito, digo-lhes que aquele famoso “mim” utilizado como sujeito, modo tão adorado pelo povo, me tira do sério. Perdão!
Entretanto, curiosamente, os equívocos lingüísticos praticados pela elite econômica - e acadêmica - deste país nem são percebidos. Sem querer entrar no mérito político da questão, são as encarnações perfeitas do que foi escrito até agora Lula e FHC. Poucas vezes – ou jamais na história desse país -, viu-se um Chefe de Estado fugir tanto da gramática normativa da língua quanto o faz o atual Presidente da República. Em algumas pessoas, causa vergonha. Poucas vezes também, viu-se tanta discriminação contra o ocupante do cargo maior da nação. Enquanto isso, os “erros” cometidos por FHC e pelos muitos políticos de direita são esquecidos (Leia a coluna de Gilson Caroni, na Carta Maior).
Nós, brasileiros, temos de mudar. Obviamente, não devemos abandonar as regras que organizam as nossas frases, os nossos discursos, sob o risco de o idioma se tornar uma grande salada. Os cidadãos devem, claro, ter acesso à boa educação, ao ensino culto da língua, para que tenham maiores oportunidades, mas jamais devem ter seu modo de se expressar, fruto do seu ambiente social, censurado ou desmerecido por quem quer que seja. Temos sim de nos adequar ao lugar onde estamos. “Se estou entre amigos, falo de um jeito mais descontraído, relaxado. Se estou em um meio acadêmico ou de trabalho, falo de modo mais formal.” Na minha visão, é assim que tudo deve funcionar. Cada local, cada "tribo", tem sua particularidade, tem seu linguajar.
Desejo que o leitor veja os diversos modos de dizer e, até, escrever como transformações naturais de todo idioma. Faz parte de um processo evolutivo, que, aos poucos, vai moldando as novas regras gramaticais.
O importante é se comunicar e aprender a respeitar as diferenças... Até no Português.
Afinal, o errado de hoje pode ser o certo de amanhã.
As variações a que me refiro são principalmente aquelas pertencentes ao campo gramatical. Exemplos não me faltam. São “discordâncias nominais e verbais”, “regências trocadas” e por aí a fora. Citarei dois casos muito comuns e que, vez por outra, são vistos com extremo preconceito por aqueles que se julgam dominantes da norma culta da língua, quando, na verdade, são os que a mais ignoram. Antes de continuar a explicar, é necessário esclarecer que somente consideramos variação, e não um erro, as expressões a que grande parte da população ou de uma comunidade aderiu, seja de forma consciente ou não.
Mencionarei primeiro o clássico “A gente fomos”... ou se preferir, “Nós vai”. Ainda há expressões do tipo “As menina foi” e “Os carro parou”... É sabido que quem fala do jeito mostrado acima, provavelmente, tem baixa escolaridade. E, por isso, são, freqüentemente, ofendidos e mal vistos. Uma atitude incorreta e absurda! Eu sei que em alguns de vocês, leitores, essas frases causam mais do que estranhamento, provocam uma irritação fora do comum. Para não dizer que sou 100% sem preconceito, digo-lhes que aquele famoso “mim” utilizado como sujeito, modo tão adorado pelo povo, me tira do sério. Perdão!
Entretanto, curiosamente, os equívocos lingüísticos praticados pela elite econômica - e acadêmica - deste país nem são percebidos. Sem querer entrar no mérito político da questão, são as encarnações perfeitas do que foi escrito até agora Lula e FHC. Poucas vezes – ou jamais na história desse país -, viu-se um Chefe de Estado fugir tanto da gramática normativa da língua quanto o faz o atual Presidente da República. Em algumas pessoas, causa vergonha. Poucas vezes também, viu-se tanta discriminação contra o ocupante do cargo maior da nação. Enquanto isso, os “erros” cometidos por FHC e pelos muitos políticos de direita são esquecidos (Leia a coluna de Gilson Caroni, na Carta Maior).
Nós, brasileiros, temos de mudar. Obviamente, não devemos abandonar as regras que organizam as nossas frases, os nossos discursos, sob o risco de o idioma se tornar uma grande salada. Os cidadãos devem, claro, ter acesso à boa educação, ao ensino culto da língua, para que tenham maiores oportunidades, mas jamais devem ter seu modo de se expressar, fruto do seu ambiente social, censurado ou desmerecido por quem quer que seja. Temos sim de nos adequar ao lugar onde estamos. “Se estou entre amigos, falo de um jeito mais descontraído, relaxado. Se estou em um meio acadêmico ou de trabalho, falo de modo mais formal.” Na minha visão, é assim que tudo deve funcionar. Cada local, cada "tribo", tem sua particularidade, tem seu linguajar.
Desejo que o leitor veja os diversos modos de dizer e, até, escrever como transformações naturais de todo idioma. Faz parte de um processo evolutivo, que, aos poucos, vai moldando as novas regras gramaticais.
O importante é se comunicar e aprender a respeitar as diferenças... Até no Português.
Afinal, o errado de hoje pode ser o certo de amanhã.
Em outra oportunidade, falarei mais e melhor sobre isto.
Feliz Ano Novo a todos.
15 comentários:
É verdade, erros lingüísticos são irritantes, principalmente os que a grande maioria do povo fala.
O problema não está exatamente no acesso a educação, mas na QUALIDADE que ela oferece. Hoje em dia é possível encontrar um estudante do ensino médio, ou até alguém já formado, sem base alguma nos princípios da nossa língua. Procuramos então explicações para essa questão: "O povo que se encontra totalmente alienado numa cultura de "creu" e "tv fama" e não se importa se fala poBREma ou biciCREta?", "O governo que implanta no sistema de educação a aprovação automática para estudantes em fase de ALFABETIZAÇÃO?"... Elas podem ser inúmeras se pararmos para pensar.
Mais do que criticar, rir ou ofender. É preciso ter atitude como cidadão e alertar de maneira não ofensiva, àqueles que estão a nossa volta, sobre esses pequenos (ou grandes) erros.
Agora, aceitar ou simplesmente ignorar o fato de que todos nós cometemos erros, é responsabilidade de cada um de nós.
Analisando o texto de uma maneira geral, ta muito bem escrito... Parabens!!
Porém eh bom tomar cuidado com a palavra "erro"... e seus similares... (p. ex.: vc escreveu "equivoco linguistico" = erro linguistico")
eh um tema mtu delicado... e se vc eh contra o conceito de erro... nao pode usar a palavra erro. nao fika bem.. rsrs
essa kestaum de maior ou menor grau.. nao existe.. nao existem linguas uniformes... ou seja.. tds as linguas variam... e bastante!!! Acredite!! Hoje o q conhecemos como Frances, Espanhol, Portugues, Italiano, Romeno, Catalão e Galego são na verdade, meras variações do latim vulgar.. e ninguem reclama disso!
Em realaçao a definiçao de erro... vc nao definiu o q eh erro linguistico... pois o erro existe sim!! Mas erro eh a construçao q nao esta presente em nehuma das variantes de uma lingua, ou seja, os problemas de "concordancia" (elas sao realmente necessarias?!)desde que propiciem entendimento do enunciado(como os exemplos do proprio texto); sao consideradas variantes e não "erro".
No fim, acho q seu discurso sobre o tema ainda está em construçao; pois ainda vejo nele alguns resquicios de preconceito linguistico...
Espero novos textos sobre esse tema polêmico.
Abraços!
rodrigo e fernanda, obrigado pelos comentários. é bom saber que há opiniões diferentes sobre um assunto tão polêmico.
comentnado o seu comentário, rodrigo, como já lhe expliquei em outra oportunidade, não acredito que fui eufemista. apenas, fiz uso de uma outra palavra para que o texto não ficasse repetitivo. Se esta foi a impressão transmitida, desconsidere. E eu assumi no texto, sim, meu preconceito em alguns casos. Mas eu me desculpei, hein!hehe
Outro ponto: de fato, tanto a minha opinião quanto o texto ainda estão em formação. Relendo o post, é verdade que faltou explicar algumas coisas, fazer alguma observações para melhor compreensão do leitor, mas não acredito que isto tenha comprometido o entendimento da idéia.
Assim, acredito que compartilhamos da mesma idéia.
agradeço que você, com seus conhecimentos do assunto, venha enriquecer esta discussão.
abraço.
Preciso comentar sobre o primeiro comentario:
-> Fico pensando o q faz o "erro" alheio causar irritação nas pessoas...
Meu povo, as pessoas precisam ter acesso à variante padrão da lingua (a tal ensinada nas escolas) mas não podem ter sua maneira de falar estigmatizada. Isso é segregação. A pessoa vai pra escola para ter maiores opções para se comunicar dependendo do contexto (ambiente) em q se encontrar.
Como se fossem roupas, assim são as variantes da lingua. Acaso alguém vai a igreja de biquini ou à praia de terno?! Assim deve ser o falante de qlq idioma: saber qual norma usar em kada lugar.
Msm vc q sabe mtu a norma padrao do portugues; por acaso vc fala formalmente (leia-se "corretamente") qdo esta conversando com amigos?! Quem nao começa frase com pronome oblíquo q atire a primeira pedra... (e eh considerado "erro" ainda q tds o façam).
Eh verdade que a qualidade no ensino eh duvidosa e q a aprovaçao automática eh terrivel.. um atentado contra a educação brasileira; porém, não importa se a pessoa vive a cultura do "creu" ou fale "pobrema" ou "bicicreta"... Importa que ela faça-se comunicar. Afinal, para isso existem as línguas!
Claro q eh preciso considerar... quem quiser falar "pobrema" vai ter dificuldades para subir na vida e alcaçan novos vôos.. pois o mundo não tolera diferenças... Eh assim com tudo; pq seria diferente com a língua?!
PS: Erros todos nós cometemos, pois errar (eh acima de tudo) humano!
Mas no ambito das linguas do mundo, sou adepto de outra frase:
"Variar eh humano!"
só pra completar...
sei que todas as linguas variam "bastante". também sei toda essa questão do latim vulgar...etc,etc,etc...
escrevi "maior ou menor grau", pois não sabia até que ponto uma lingua varia mais que outra. mas é óbvio que todas variam muito.
O texto está bem interessante... mas teve uma parte que achei digamos "política demais". Bem, de certa forma eu diria que você em determinada passagem do texto deixou transparecer sua preferência por tal governo... Acho que não se pode justificar o "falar" do Lula com o do FHC.
Eu gostei mt do tema, foi bem pensado.
Com decorrer do tempo a lingua portugesa e outras linguas , vão se modificando. Como vc disse, temos q saber como devemos usar a lingua portuguesa, ou seja , no grupo de amigos ou numa entrevista de emprego.
Só q tem alguns erros de português q não devemos deixar passar, como : "é nós", "a gente vamos", "pra mim comer e etc..."
Isso não dá pra escutar!rsrs!
Enfim, o texto foi bom , mas poderia se aprofundar mais no assunto.
bjs!
O tema é bastante polêmico.... Será que falar biciCReta ou a gente fomos é um erro?
O que realmente é erro? existe erro em língua?
sim, realmente o erro em língua existe.Ele é norteado pela visão gramatical que se assume. Vale lembrar que gramática não tem nada a ver apenas com os compêndios estruturalistas qye segmentam as orações e as classificam. Toda língua tem regras ( ou você já ouviu algum falando A meninas ou eu muito você gosto?)
A visão de erro lingüístico difundida atualmente, segundo Sírio Possenti, um renomado pesquisador da UNICAMP na área da lingüística, é a difundida pelas gramáticas normativas ( aquelas que classificam e impõe " regras"): o erro é tudo que foge à norma estabelecida como padrão pela sociedade. Mas... que norma padrão é essa? Por que será que todo mundo inicia oração com pronome oblíquo ( p. ex. Me ajuda, por favor) e ninguém considera erro? Está fora do padrão ditado pelas gramáticas normativas.
A língua é algo dinâmico, e cada situação se exige o uso de uma variante. É claro que não vou dirigir-me a meu chefe usando expressões como " o pobrema é teu, mano" e etc.!"]
A função da escola é ensinar sim a norma padrão , pois será utilizada como ferramenta pelos aprendizes, mas jamais recusar variantes comunicativas utilizadas pelos falantes, já que são compreendidas e estabelece comunicação.
Só para saber: Camões utilizou concordância semântica com a gente em os Lusíadas; Pero Vaz de Caminha utilizou expressões como "frauta" e "intonce"... Quem vai debochar deles?
érica, vanessa e ana beatriz obrigado pelas opiniões e explicações que, com certeza, também me ajudama compreendermelhor o assunto.
só um detalhe: érica, o objetivo não foi favorecer um governo ou justificar a fala de um por causa do outro. quero mostrar apenas o modo como as variaçoes linguisticas expressad por um são tratadas com preconceito, de certa forma. enquanto o outro, passa ileso. mas não sou de um lado nem do outro oiliticamente falando.
beijos, meninas.
Rafael, gostei da mensagem! (aliás, foi muito bem passada). E, pra mim, o importante na comunicação sempre foi isso: Não importa se com gramática fiel, pontos finais e virugulas corretas - mas o que assimilamos e o que passamos. A mensagem proposta. (comunicar independe de regras, né?!!? A vida independe!)
E tanta gente por ai fala certo e não faz o que diz, não é mesmo?
Beijos, Fernanda!
é verdade, fernanda... muito bem falado. e eu assino embaixo.
valeu pelo comentário.
beijos.
Meu amigo Rafael,vim aki dizer que gostei muito do blog,começaram muito bem mesmo,e falar tambem que você arrasou no texto!!!!!!!!!!!!Parabens
Quem diria que um dia Rafael Barbosa (aluno brilhante de eletrônica rsrs) estaria escrevendo um texto desta magnitude! Sem "puxa saquismos" pois nem eu e nem voce precisamos disso, me senti lendo a coluna de um grande jornalista!! Enfim... concordo quando dizes q há hora certa p/ se falar de modo culto e hora certa p/ se falar como gente normal.Mas, porém, entretanto, todavia (desculpem, não resisti) temos q tomar cuidado p/ não banalizarmos a língua e transforma-la na bagunça que já impera em todas as outras áreas do nosso humilde país tropical!!
Continue a escrever assim, e voce vai longe!!
abração do seu grande amigo!!
fala, diego...
obrigad pelo "aluno brilhante de eletrônica"!hehehe
mas nós sabemos que eu absolutamente nada... como vocÊ!hehehehe
obrigado também pelos elogios (exagerados)...hehehe
valeu pela participação e opinião.
uma coisa: claro que não se pode banalizar, mas nós temos que aceitar as variações sem preconceito - mesmo que você não curta muito essa onda!hehehe
até porque muitas variações não banalizam, mas enriquecem o idioma.
abraço, meu amigo.
completando o que faltou:
que eu não entendia*
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