terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

ReUNIndo











“Não é um romance, uma novela. É uma ficção da realidade humana, uma transposição da realidade para a imaginação daquilo que deveria ser realidade.”

Thomas Moore (1478-1535), Utopia (1516)


Nesse livro o autor Thomas Moore narra sobre uma ilha fictícia (http://luis-tudoomais.blogspot.com/2007/03/thomas-moore-o-fim-da-utopia.html), onde haveria uma sociedade ideal (República Utopiana). Ele diz desejar um dia vê-la real. Alguns dizem que essa Ilha Utopiana seria o Brasil. Pode parecer até brincadeira, mas não é.

Essa breve introdução a respeito da obra “Utopia” servirá de reflexão para tratar sobre um assunto complexo e que vem sendo discutido nas Instituições de Ensino Superior Federal do Brasil: Reuni.

Gostaria de esclarecer a relação entre o Reuni e a obra Utopia, mas quero apresentar no decorrer do texto alguns argumentos que demonstram essa minha visão. A proposta do Reuni é muito bela, mas é uma Utopia.

O Reuni é um Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais e foi instituído pelo decreto presidencial nº 6096 de 24/05/2007. O objetivo do programa é aumentar o número de vagas nos Cursos de Graduação das Universidades Federais do Brasil. Mais um programa, que juntamente com o ProUni, faz parte de um Plano de Inserção da população no Curso Superior.

Para tal objetivo, o Reuni conta com uma série de propostas de reforma que provavelmente serão implantadas a partir deste ano. Algumas dessas propostas já foram, e estão sendo ainda, constantemente debatidas nas Universidades. E há que se dizer, as opiniões têm sido as mais controversas possíveis. Em algumas ocasiões, pelo menos na UFRJ, houve manifestações de estudantes com ocupações na Reitoria e muitos conflitos durante reuniões e eleições para a Chapa do DCE (Diretório Central dos Estudantes).

O Ministério da Educação se queixa da grande liberalização do Ensino Superior, pois 70% dos cursos estão sob poder do setor privado. Isso vem acontecendo nos últimos anos devido a vários motivos, entre eles, o ProUni (Programa Universidade para Todos) e diversos programas de cursos à distância, financiamento de mensalidades, etc.

Vamos ao lado bom do ReUni:

Atualmente, apenas 10% da população Brasileira entre 18 e 24 anos está no curso superior. Comparados a países como Argentina, onde o número ultrapassa 30% , é realmente muito baixo. Apesar de tudo, a Argentina não chega a ser um ótimo exemplo. Porém em países como Canadá e Estados Unidos houve uma expansão de 50% através de programas de diversificação, como a criação de “Colleges” com cursos de 2 anos de duração, passando por carreiras tradicionais e Pós-graduação. Frente a essas informações, pode-se perceber que é necessário uma Reforma no curso superior e, principalmente, encontrar maneiras de mudar a situação atual. E agora, vamos ver o que está sendo feito para mudar isso.

A estratégia de implantação do ReUni está prevista para ocorrer nos próximos 4 anos. Algumas das “propostas” já aprovadas são:

1. Aprovação de 90% nos cursos superiores;

2. Aumento orçamentário de 2 bilhões (20%) para as Universidades que atingirem as metas estipuladas durante um período de 5 anos;

3. Aumento da relação aluno professor de 18 para 1;

Esses são apenas uns dos objetivos gerais. Porém, em algumas Universidades, isso pode variar. Por exemplo, na UFRJ, tem-se como objetivo levar todos os cursos para a Ilha do Fundão, aumentando também o número de vagas nos cursos já existente e criando novos cursos e em novos horários. Criação de cursos de Engenharia noturna no CT (Centro de Tecnologia) e isso, é claro, exigiria maior segurança lá, maior número de ônibus e de linhas de ônibus, gastos com manutenção, contratação de professores (Pós-graduados), funcionários para limpeza, manutenção, laboratórios.

Uma outra proposta seria a criação (na UFRJ) de ciclos básicos dentro das grandes áreas: Ciências matemáticas e da natureza, Ciências Humanas, Ciências da Saúde , Ciências da tecnologia, etc. Esses ciclos básicos teriam a duração de 3 anos, e a partir daí, de acordo com o desempenho do aluno ele poderia, ou não, continuar seu curso, obtendo assim uma graduação específica em uma determinada área. Caso o aluno não vá bem no ciclo básico, ele sairá com um diploma de “não sei o que”, porque, na verdade, não sei dar o nome a quem fez as Físicas e os Cálculos em um curso de Ciências Matemáticas e de Natureza nem sei o que essa pessoa pode fazer. Antigamente chamavam isso de “não terminar a faculdade”.

Fiz um breve resumo do que é o ReUni e do que pode vir a ser. É importante estar atento à preservação da qualidade do Ensino Superior no Brasil e do Ensino em geral. A educação pública brasileira nos níveis fundamental e médio vem mostrando resultados péssimos em avaliações internacionais, e é preciso tentar mudar isso. Lembrando que quem está nos ensinos de base hoje estará no Ensino Superior amanhã.

Para saber mais sobre o Reuni:

http://ocupaufpe.blogspot.com/2007/11/afinal-o-que-reuni.html

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Mercado: O Jovem



Da última vez, escrevi sobre a transformação das relações de trabalho em virtude principalmente da grande Revolução Tecnológica ocorrida no Brasil e no mundo. Como prometi, continuarei falando sobre o mercado de trabalho, mas desta vez abordarei um aspecto que está ainda mais próximo de mim: a relação entre os jovens e o mercado de trabalho.

Uma pesquisa feita em 2005 pelo IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) em conjunto com o Instituto Polis, revelou que 27% dos jovens residentes nas principais regiões metropolitanas do país não exercem qualquer atividade educacional ou profissional. Esta conclusão foi tirada após serem ouvidos 8.000 jovens, assemelhando-se com a pesquisa feita pelo IBGE, em dezembro do mesmo ano nos grandes centros, na qual apontou que 23% destes com idade entre 16 e 24 anos, não estudam e não trabalham.

Esses dados além de remeter críticas e ofensas aos jovens nos revelam uma preocupante situação; e desde quando a pesquisa foi realizada, a realidade não mudou muito. Sabemos fatores como os ambientes familiar e social, a qualidade da educação - que no Brasil não é levada tão a sério – e a oportunidade de conhecer o mundo através de outros meios, influenciam sim na capacidade de inserção do indivíduo e no tipo de atividade.

“(...) Incerteza, fragilidade e insegurança têm sido, freqüentemente, palavras expressadas para caracterizar traços juvenis. Mas, num contexto de alto desemprego e subemprego, tanto para os jovens quanto para os adultos, como poderemos caracterizar o mercado de trabalho e a, quase sempre, inexorável inserção do indivíduo nesse mercado? ¹”

(...)Nossos grandes mercados urbanos de trabalho parecem estruturados de forma a ameaçar os trabalhadores jovens com a reprodução duradoura da instabilidade dos empregos precários e da recorrência do desemprego. Longe de se afigurarem como tormentos da inserção “juvenil” a serem ultrapassados com a maturidade profissional, esses riscos estão presentes na ordem do dia do mercado de trabalho também para grande parte dos adultos. ²

Baseado em minha experiência, notei que a principal dificuldade dos jovens – e me incluo neste grupo – é justamente a exigência da experiência profissional. Essa situação nos faz praticamente gritar para os empregadores: COMO TER EXPERIÊNCIA SE NÃO TENHO UMA PRIMEIRA OPORTUNIDADE?

O quadro nos leva a concluir também que além dos fatores supracitados, a exigência por experiência acaba afastando nossos jovens, os quais geralmente não têm muitas oportunidades, do mercado de trabalho. Obviamente que existem outras variáveis e conseqüências a partir deste assunto. Porém, na prática há diversas saídas como, por exemplo, o setor de serviços, que emprega na maioria das vezes pessoas sem experiência e ainda, aquelas que estão há algum tempo fora do mercado. Vale destacar que este é o setor que mais cresce todos os anos, mas os jovens acabam não sabendo disso e perdem a chance de começar a carreira. Sugiro também aos novos profissionais que continuem buscando as oportunidades, mas também fiquem atentos as mudanças a sua volta.

¹ http://www.centrodametropole.org.br/divercidade/index.html , confira a matéria sobre transição das fases na vida, dentre outras.
² Ana Amélia Camarano: Diretora de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Organizou o livro “Transição para a vida adulta ou vida adulta em transição?”, lançado pelo Instituto. O livro também conta com a colaboração de diversos pesquisadores, dentre eles, a socióloga Nadya Araújo Guimarães, pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole (CEM). Guimarães, 2006: 173.