Nos últimos tempos, o termo “sociedade” tem sido utilizado exaustivamente – e, algumas vezes, levianamente - para designar toda a população nacional. “A sociedade exige”, “A sociedade quer”... É sempre assim.
A evocação da vontade coletiva, por parte dos políticos, para justificar suas atitudes deve nos fazer pensar se, de fato, participamos e exprimimos opiniões e idéias sobre os problemas do nosso cotidiano. Até que ponto fazemos parte dessa “sociedade”, se não existe um canal de comunicação direto entre governantes e comunidade e, até mesmo, entre os membros desta comunidade? E será que todos conseguem participar dela?
É evidente que as mídias de massa (tv, rádio, jornais impressos, revistas) assumem papéis importantíssimos, sendo nossos representantes nessa relação.Apesar disso, é necessário um veículo capaz de transmitir com fidelidade e autenticidade o que se passa no dia-a-dia e na cabeça dos cidadãos, principalmente daqueles que vivem mais a margem.
A comunicação comunitária, livre de interesses financeiros, é uma oportunidade enorme de se conhecer um lado, até então, mantido sob o tapete. Com cultura, linguajar e hábitos próprios, a periferia tenta conseguir o seu espaço e se impor, mesmo com as dificuldades, como parte fundamental e influente no rumo que toma o seu bairro, a sua cidade e o país.
E digo mais: o diferencial desse novo jeito de se difundir informação vai além do produto final, do programa pronto em si. Neste modelo, o processo é muito mais importante, porque é nele que as pessoas interagem e se identificam, as idéias convergem e tudo se torna comum, seja qual for o objetivo matriz de cada televisão comunitária. Elas são o verdadeiro “espelho social”, refletem fielmente a imagem de seus criadores.
Antes de continuar, abrirei espaço para uma auto-citação (me perdoem! Rs). Relembrando um trabalho de universidade que fiz no ano passado, colocarei um pequeno trecho capaz de esclarecer melhor a questão:
“A importância de meios alternativos de comunicação é fundamental na tomada de consciência do cidadão. Assim, ele é capaz de perceber se seus direitos estão sendo respeitados, reconhece a força do coletivo nas lutas pelos direitos e na reformulação dos limites e espaços sociais.
As tvs comunitárias reforçam o “direito de dizer” como uma forma de participação e como base para a modificação das relações autoritárias vividas pela população, conseqüência da posição social que possuem. Através do uso do vídeo, da imagem, o povo se iguala àqueles que governam. O vídeo é importante não só para buscar as soluções, mas também para a coordenação do processo de transformação da realidade.”
“Na mídia televisiva convencional, o morador da periferia faz parte de um imenso contingente de indivíduos anônimos. Já em um canal comunitário, ele é reconhecido como alguém que convive com o grupo. Sua ocupação, família e moradia podem ser identificadas.”
Uma das propostas da comunicação comunitária é fazer dos cidadãos excluídos, cidadãos politicamente ativos. Todavia, ainda há muitas barreiras a se derrubar. A lei que obriga as televisões a cabo a fornecerem um canal exclusivamente as tvs alternativas não é cumprida – nenhuma novidade, não é? – e toda uma programação, cuja qualidade é grande e a intenção melhor ainda, é perdida.
Como já estou me alongando bastante, terminarei aqui. Na próxima vez, se for do interesse de vocês também, eu posso continuar falando mais sobre o tema.
Um breve comentário: É engraçado. Para escrever o texto acima, eu procurava e não achava um tema interessante para falar. Mesmo com tantas informações e notícias, nada me despertou a atenção.
No entanto, uma simples conversa é capaz de nos fazer abrir os olhos um pouco mais e, finalmente, encontrar o assunto perfeito. Nada como um bom bate-papo.