terça-feira, 15 de abril de 2008

Por enquanto, eu quero PAS (com S mesmo!)

Luta. Concorrência. Disputa. A sociedade brasileira – como muitas outras outras – está cada dia mais competitiva. Como dizem, o mundo é uma selva, onde só sobrevivem os espertos (e os expertos, claro!).

Entretanto, mesmo para muitos destes conseguirem a ‘vitória’ , há um caminho bastante difícil, árduo. As diferenças econômicas, culturais e sociais influenciam de forma considerável na briga entre os que desejam ascender na pirâmide social. E um dos setores atingidos por esta desigualdade é a educação. Tá! Até aí, nada de novo, certo?

Tratando-se de educação, me lembrei do vestibular e de todos os programas que facilitam o ingresso de cidadãos menos favorecidos às universidades (com os quais concordo, em termos). Assim, chamou-me a atenção, semana passada, uma notícia importante: “a Universidade de São Paulo (USP), no vestibular de 2009, irá implementar em seu Programa de Inclusão Social(INCLUSP) o PAS (Programa de Avaliação Seriada), como forma de democratizar o acesso a seus cursos’.

Quantas siglas! Vamos passa a passo. O que é INCLUSP?
É o programa utilizado pela USP que visa a facilitar e a estimular a entrada de estudantes da rede pública na instituição. Como diz a apresentação do INCLUSP, feita pela universidade, em 2006: “O Programa de Inclusão Social da USP deve ter como foco ações direcionadas à melhoria do ensino público fundamental e médio que, além de contribuir para a educação geral, permitam identificar os melhores talentos, independentemente de sua história social e econômica.”
“Com isso, será possível minimizar a perda de talentos decorrente da perversa combinação de fatores negativos, como a deterioração da qualidade do ensino oferecido pela escola pública, e um sistema de admissão à Universidade que privilegia o acúmulo quantitativo da informação no momento do ingresso e não o potencial intelectual e criativo dos candidatos.”


Bingo! Parece que estamos encontrando o caminho para um vestibular mais justo. Qualidade no lugar de Quantidade. Identificar talentos, méritos, já no ensino médio é bastante justo. Mas é só um passo. Pra quem não gosta das cotas (de nenhuma delas) é uma bela saída. No entanto, não torna as cotas desnecessárias ainda.

E onde entra o PAS? O programa foi implementado pela primeira vez na Universidade de Brasília (unB) nos anos 90. E tem por objetivos: 1) selecionar os futuros estudantes universitários de forma gradual e sistemática, não apenas com uma exame seletivo (vestibular, como hoje é realizado em grande parte do país); 2) definir os parâmetros de um processo seletivo que busque a avaliação da aprendizagem significativa, privilegiando a reflexão no lugar da memorização, ensino sobre adestramento, qualidade sobre quantidade.

Neste programa, realiza-se a cada série do ensino médio uma avaliação. No fim, tira-se uma média das 3 provas (já que são três anos) e a nota entra como um bônus no vestibular, cujo valor seráa definido por cada instituição. Reduz-se assim a diferença entre estudantes de escolas particulares e públicas.
Essa aproximação entre escola pública e universidades, sugere uma melhora na qualidade dos conteúdos transmitidos no chamado 2ºgrau. Pois alinha-se escola regular com vestibular, com o ensino superior. A educação deixa ser só ‘decoreba’, e encontra sua função e utilidade. Passa a servir de “suporte para o desenvolvimento de competências e habilidades, contextualizar o cidadão em sua realidade social e colocar as bases do profissional do futuro”.

Ainda estamos longe do ideal, mas aos poucos encontraremos a fórmula mais justa. Até que todos estejam em condições, no mínimo, semelhantes de disputa. É utopia? Provavelmente. Todavia, a gente não perde nada acreditando e buscando a tal igualdade.

NOTA 1: Há quanto tempo não escrevia no blog? Bastante, né? A quem passava aqui e não via textos atualizados, peço desculpas.

NOTA 2: Todos os textos entre aspas são citações. Foram retirados dos seguintes links: INCLUSP e PAS . Clique para saber mais.

10 comentários:

Érica Azevedo disse...

Eu não concordo. Com nenhum dos 2 sistemas. Nem cotas, nem o de avaliação ao longo do ensino médio.

1º Essas avaliações no ensino médio não provam nada, pois existem escolas de Ensino Médio no país que são ótimas, e portanto o fato de alguém estudar no Colégio Estadual Dona Maria e no Colégio Gatinha Sapeca não prova nada. A pessoa pode ser rica e estudar no Pedro II ou pobre e estudar em escola particular.


2º A história prova que esse tipo de acesso mais amplo ao vestibular não traz bom resultados, pelo contrário, a evasão. Na Argentina se fez a mesma coisa há décadas atrás na tentativa de 'colocar' os jovens no ensino superior e deu no que deu.


3º Digo e repito, essa emenda é pior do que o soneto das cotas. O certo é priorizar a educação de base (alfabetização e ensino fundamental). Como um aluno chega no ensino médio sem ao menos saber o que está lendo e sem nem conseguir produzir um texto? não adianta de nada... o problema está na raíz, e é lá que tem que ser resolvido.

Rafael Barbosa disse...

então, érica... evidente que melhorar a educação de base é fundamental. não estou negando isso no texto.

o que quero dizer é que a partir do momento em que se utiliza como auxílio essa avaliação seriada e a integração entre ensino médio e superior, o acesso dos estudantes de escola pública - que, em sua maioria, não ensinam diversos conteúdos que caem no vestibular
- as chances desse aluno passar é maior.

o ensino hoje é mecanico. decorar para passar no vestibular. o exame que determina quem deve ou não entrar na universidade não mede qualidade, mede quantidade.
com o pas, o mérito acadêmico não é esquecido. claro que o programa não é perfeito - eu disse isso no texto. estamos longe do ideal. mas é um passo que se dá em direção a uma avaliação mais justa.

se invertirmos somente no ensino básico, sem se utilizar desses programas, uma geração ficará fora da universidade(e somente oito anos 12,13 anos depois começaremos a tal inclusão). muitos alunos do ensino médio público poderão ficar de fora do terceiro grau não porque não tenham capacidade de cursar o nivel superior, mas simplesmente porque não fez um exame que não tem a menor ligação com o que lhe foi ensinado no ensino médio e só foi ensinado nas particulares e nos cursinhos.
claro que existem exceções. mas elas são apenas isso, exceçoes. o desafio estar em transformar exceções em 'comum'. enquanto isso não acontece, não vejo outra saída.
mas respeito sua opinião. valeu, érica.

Rafael Barbosa disse...

as chances desse aluno passar´são maiores*

Rafael Barbosa disse...

só corrigindo mais uma vez (hehe... a pressa é fogo)

muitos alunos do ensino médio público poderão ficar de fora do terceiro grau não porque sejam incapazes de cursar o nivel superior, mas simplesmente porque fez um exame que não tem a menor ligação com o que lhe foi ensinado no ensino médio, somente nos cursinhos e nas particulares. vestibular não mede capacidade.

Érica Azevedo disse...

Mas esse é um preço que temos que pagar. Não é fazendo 3 provas no ensino médio e passando que um aluno estará em condições de cursar o ensino superior. E levando em consideração que esse exame deverá ser unificado, tipo o ENEM, realmente, isso não prova nada. Quem fez o ENEM sabe disso...

Érica Azevedo disse...

Mas esse é um preço que temos que pagar. Não é fazendo 3 provas no ensino médio e passando que um aluno estará em condições de cursar o ensino superior. E levando em consideração que esse exame deverá ser unificado, tipo o ENEM, realmente, isso não prova nada. Quem fez o ENEM sabe disso...

Rafael Barbosa disse...

por que não? acompanhar o desenvolvimento dos alunos nos três anos, com a participação das universidades neste processo, é uma alternativa bem melhor do que o modelo atual, que muitos enfretam com a cara e a coragem sem saber o que lhes espera na prova.

e só realmente vamos saber quem tem condções de cursar o terceiro grau depois deste estar dentro de universidade.
para isso, demo-lhes oportunidades.

o modelo não é o ideal... jamais será. mas do jeito que tá, fica muito complicado medir qualidade e não quantidade.

Érica Azevedo disse...

Prefiro o sistema atual...

Rodrigo Campos disse...

Rafael, primeiro gostaria de avaliar o texto pois essa é minha fonte de estudo. rsrs

Vc me falou que eu não gostaria do texto, mas não vejo motivo para não gostar. é sabido que eu prefiro ler criações literárias a noticias. Vc sabe que a função informativa por si só não me motiva, não que seja desprezivel, pelo contrario. é preciso se informar sempre mas não é o discurso que EU gosto de adotar, porém é um ótimo recurso, inclusive para ensino de língua materna e extrangeira. Enfim... (me empolguei... rs)

O texto tá muito bem escrito, respeitando as citações, coeso e coerente. Portugues cultissimo. Parabens! E digo mais. Parece que acabei de ler um texto academico. Muito bom. Acho que vc precisa me ensinar a escrever... rs

Sobre o tema, já conversamos sobre isso, acho justo sim e válido. Tomara que o vestibular acabe ou que mude seu modo de avaliação, como nos sugere o texto.
Pq do jeito que esta, perde o pobre da escola publica e quem enriquece ainda mais é o dono do pre-vestibular...

Abraço!

Rafael Oliveira disse...

Programas como o PAS são uma ótima iniciativa. Concordo que nosso ensino básico está muito longe de ser no mínimo bom, mas são iniciativas como essa que democratizam o acesso ao ensino superior e valorizam o aluno crítico e participativo, este sim o bom aluno. Do que adianta decorar as milhares de fórmulas, regras de português, fatos históricos e dados geográficos, apenas para fazer uma prova e disputar com outros tantos milhares, se o indivíduo não usa todo esse 'conhecimento adquirido' para refletir suas ações diárias?

Muitos países desenvolvidos usam a análise curricular [e obviamente as notas] para admitir seus alunos, e são bem sucedidos do jeito que são. Vale destacar que são avaliadas as competências e potencialidades dos candidatos, não a capacidade de decorar a teoria. Dinheiro gasto com educação, não é gasto, é investimento, e a consequência do uso desse método de avaliação, é o país passar ter mão-de-obra mais qualificada, e evitar investir em pessoas que descobrem durante o curso superior que não estão estudando aquilo que eles se identificam.

Com relação a Argentina, sei que fizeram a reforma na educação ainda no princípio do século passado e a maioria dos jovens entram para universidade, os estudantes de lá lêem mais livros do que os estudantes brasileiros[lá são pelos menos 5 livros ao ano, aqui 0.7 livros, se isso é possível], e embora eles estejam em uma fase econômica ruim, eles têm 3 prêmios Nobels.

Rafael, parabéns pelo texto.